Chegou em casa e encontrou no canto do seu quarto uma mala de tamanho médio, alça retrátil, toda
preta com zíperes amarelos. Achou até que havia chegado algum parente de
surpresa. Perguntou a todos da família que mala era aquela e de quem era a
mala, mas ninguém soube dizer. Deduziu que quem havia deixado a mala ali era a
empregada, que já havia ido embora.
No dia seguinte a resposta: “Veio um menino aqui entregar.
Disse que a senhora deixou para consertar e que o dono da loja pediu para
deixar aqui”. Ela ainda arrematou que estranhou porque nunca tinha visto aquela
mala.
Mas a mala não era dela. A empregada não havia perguntado ao
menino de que loja veio a mala e não havia qualquer informação, um papel, uma
nota fiscal, nada, que pudesse indicar a origem da mala.
Resolvida a não querer aquela mala dentro de sua casa,
decidiu descobrir o dono. Viu que havia um cartão de identificação com um nome
escrito. Sabino! Só Sabino, mas já era um começo. Foi ao computador e vasculhou
Sabinos pelas redondezas. Localizou um Sabino no bloco “J”, e ela morava no
bloco “I”. Deduziu então que tinham confundido as duas letras manuscritas no
cartão.
Anotou o endereço e foi até o bloco “J”, apartamento 213. Tocou
a campainha e quem abriu a porta foi uma senhora de aparência pouco amigável.
Pediu desculpas por ter ido até lá àquela hora e explicou a situação, mostrando
a mala, depois de identificar a mulher como sendo a senhora Sabino.
“Tá pensando que sou trouxa, é? Gritou a mulher, ainda na
porta da sala. Que história de mala é essa minha filha. O Gilson anda por aí
com suas periguetes, esquece roupas e malas pelo caminho, e você ainda vem com
uma história de conserto de mala?”
Puxou a mala para perto dela e bateu a porta sem dar tempo
para qualquer reação. Certa que havia se livrado de um transtorno, voltou para
casa e tentou esquecer o ocorrido. Antes do almoço, a campainha tocou
insistentemente. Ao atender deu de cara com a senhora Sabino e um senhor ao
lado, que depois soube ser o Gilson Sabino, e a mala.
“Ela veio lhe pedir desculpas”, adiantou-se ele. “Foi um
grande mal entendido, porque esta mala não é minha e peço que a aceite de
volta, para devolver ao verdadeiro dono ou à loja de consertos”.
Surpresa com a situação, insistiu que não ficaria com a
mala, porque também não era dela e não queria se responsabilizar pelo objeto.
Mas a cada argumento que apresentava, a mulher ficava mais nervosa e por fim passou
a gritar dizendo que seu marido não era um mentiroso
“Você está querendo denegrir a vida dele. Me fez pensar que
ele estava tendo um caso com você”, gritava a senhora Sabino, citando situações
folhetinescas, absurdas, fora de qualquer lógica.
Quando a situação estava no limite máximo de surrealismo, apareceu
um menino de olhos arregalados, ofegante por ter subido quatro andares de
escada e que esboçou um grande sorriso ao olhar para a mala. Olhou para cada um
de nós, pediu desculpas, e disse que estava ali porque o seu Antônio pediu para
que ele levasse a mala de volta, antes que perdesse o emprego e a cabeça. “Foi
isso mesmo que ele me disse”, reforçou. "Posso levar?"
CLARO!!!! Falaram os três ao mesmo tempo.
“Obrigado dona, e desculpa aí ter interrompido a prosa de
vocês. Bom dia”, disse saltitante o menino. “Acho que vou descer de elevador,
porque tô muito cansado”.
“Espera aí, nós vamos junto com você”, disse a senhora
Sabino, entrando no elevador puxando o marido pela mão.