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02 fevereiro 2015

Por que chutar?

Fiquei olhando aquela cena e comecei a imaginar o que teria ocorrido para fazer a mulher agredir aquele homem. De longe dava para vê-la ainda gesticulando, no meio da rua, até chegarem ao ponto de táxi e sumirem no trânsito. Enquanto via o casal se afastando, pensei em várias possibilidades, incluindo a narrativa a seguir. 
Um chute na canela do marido foi a forma que ela arrumou pra extravasar sua raiva pela decepção de não ter sua vontade satisfeita. Nem se incomodou com o constrangimento que o ato poderia causar. Afinal, pensou, ele merecia. Vieram para a posse do político amigo que agora era senador. Viajaram muito, desde o interior do estado, e estavam cedo à porta do Parlamento para acompanharem todos os detalhes da solenidade. Como tinham condição financeira abastada, vestiram-se com as melhores grifes e contavam com as melhores acomodações na capital do país. Ainda assim, a mulher queria manifestações de prestígio por parte do novo senador e insistiu que o marido providenciasse formas de aproximação pública do parlamentar. Por achar essa situação desnecessária, ele não fez qualquer esforço nesse sentido. Em contrapartida, ela persistia no seu objetivo. Queria que ele ficasse sempre perto do político, puxasse conversa, posasse para fotos, enfim, aparecesse nacionalmente com a mesma proximidade que tinham na pequena cidade do interior. O marido foi ficando irritado pela insistência da mulher e decidiu fazer o contrário. Manteve distância do amigo. Cumprimentou-o uma vez e se afastou. Foi para as galerias do Plenário, enquanto que a mulher queria que entrassem na tribuna de honra. Finda a cerimônia de posse dos senadores, ela foi a primeira a sair do local para tentar se encontrar logo com o político. Puxava o marido pelo braço e ele deixava-se levar. Quando finalmente chegaram ao lado do Plenário, o novo senador estava cercado de correligionários, pois pertencia à maior bancada da Casa. Ela chegou a empurrar o marido na direção do grupo, mas ele fixou os pés onde estava e disse que não seria conveniente chegar até lá porque estavam todos conversando sobre questões que só interessavam aos parlamentares. Ela não ficou satisfeita e foi até lá, cumprimentou o amigo e de lá chamou o marido para que se aproximasse. Ele percebeu a manobra da mulher e fez de conta que procurava algo para ver e começou a olhar em volta, analisar o lugar e as pessoas. Assim ela deixou o grupo e veio até ele. Furiosa. Vamos embora, disse ele determinado, enquanto o grupo de senadores se afastava sem interromper a conversa. Ela saiu ao lado dele visivelmente revoltada. Declarou as piores qualificações sobre o marido. Saíram do prédio assim: ele calado, ela quase gritando, gesticulando. Do lado de fora de uma das entradas do edifício não se conteve quando ele resolveu parar e de novo fazer o gesto de "olhar em volta". Para chamar sua atenção e extravasar a raiva, chutou a canela do marido duas vezes. Ele olhou para ela e voltou a andar.