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09 novembro 2006

Entressafra


Há muito tempo não faço poesia como se faz um filho,
com tesão, criatividade e iluminação.
Há tempos não descubro a rima certa para a emoção!
Fico aí a desfiar um dicionário,
expondo conceitos,
dizendo esconder cartas do baralho,
apenas desenhando e colorindo versos
como se arco-íris fossem
a se enterrar em dourados potes.

Há muito tempo eu não faço poesia à luz do dia
conjugando o verbo criar.
Há tempos não me entrego à brincadeira de inovar!
Fico por aí fazendo cálculos
para não ultrapassar a métrica liberdade da expressão;
buscando escolas,
apenas encaixando rimas nos versos,
como se estrelas fossem
obrigadas a atravessar a madrugada sem pretensão.

Há muito tempo eu não descubro a poesia na janela
camuflada atrás de uma nuvem.
Há tempos não vislumbro a mágica ilusão!
Fico então a versejar um aguaceiro,
afogando mágoas,
confessando haver sempre um novo dia,
apenas enganando a fome de viver,
como se vaga fosse sobre o mar
a enterrar na areia garrafas vazias.


NÓS
Puxe o fio e experimente esta viagem!
Por trás deste emaranhado imaginário
existem mundos e fundos;
nós atrelados
nós, lado a lado;
nós, pronome conjunto - cumplicidade adjunta;
nós, substantivo ativo - atrelamento inevitável
.

Tudo pode neste rolo!
Inclusive (e principalmente)
desfazer os nós
por nós dois
Refazermos nós
nosso fio.

Só nós podemos achar a ponta desta meada
e ir desenrolando os nós,
só nós,
até que não haja nós substantivos
mas somente nós pronominais.
Só nós!



Poemas que integram a Coletânea do Prêmio Sesc de Poesia/2006




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