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10 novembro 2007

Fantasias

Minha filha de 12 anos foi convidada para uma festa à fantasia. Achei estranho haver uma festa desse tipo em pleno mês de novembro. “Não é festa de Halloween?”, perguntei, e ela disse que não, que seria mesmo uma “festa festa” e que todos teriam que ir vestidos com uma fantasia.
Então procuramos uma loja que vendesse a roupa. Para minha surpresa, havia várias lojas especializadas em fantasias, cada uma com dezenas de fantasias, de todos os tipos e tamanhos, e que não só vendiam, mas principalmente alugavam as tais fantasias. Para minha surpresa ainda maior, a loja que escolhemos, por ser mais próxima de nossa casa, estava lotada de adultos e adolescentes comprando fantasias o que significava – e eu mais surpresa ainda! – que haveria outras festas à fantasia naquele final de semana. “Alugar sai mais em conta, porque o preço para comprar é três vezes maior que o preço do aluguel”, explicou uma vendedora.


Era um sábado e a loja fechava às 14h. É claro que já estava chegando o meio-dia e a loja foi ficando cada vez mais lotada de clientes de última hora. Uma família inteira tentou se encaixar em um conjunto de fantasias que não consegui identificar o que significavam: pareciam plantas, gnomos, troncos de árvores. Tinham afinidade, porém. Outra freguesa quis uma coroa de princesa e saiu com a que achou mais linda e de aluguel mais barato. E a "Mulher-Gato" veio cobrar as orelhinhas que estavam faltando na fantasia que alugara.
Não há mais fantasia de grego”, disse a vendedora para um rapaz que entrou na loja com a namorada, a amiga da namorada e mais uma criança. “Como não há mais?”, disse o freguês surpreso. “É que está havendo uma festa de gregos e troianos e tudo já foi alugado”, respondeu.
Festa de gregos e troianos, que coisa incrível. Daqui a pouco chegou outro grupo procurando fantasias para uma festa de McDonalds. Fiquei esperando uma resposta negativa da vendedora, mas muitas surpresas ainda me aguardavam. Lá estavam as fantasias de “big mac”, “batata frita”, “copo de refrigerante”, “sorvete”, “canudo”, “torta de banana” e até o novíssimo sanduíche com molho de mel e mostarda. Atordoada, cheguei a ficar aliviada por saber que minha filha desejava uma simples fantasia de “mamãe Noel”.
Mamãe Noel de vestido ou de saia?”, perguntou a vendedora. Trouxe as opções que encontrou. Peças enormes, que engoliram minha filha. “É só escolher que a costureira faz os ajustes”, explicava a vendedora que conseguia a proeza de se multiplicar dentre as dezenas de peças penduradas em inúmeros cabides dentro da loja e desse meio surgia a todo o momento.
Confesso que aquela montoeira de roupa e gente e conversa causou-me um desconforto ampliado pela falta de ventilação do lugar. Continuava esperando que a “Mamãe Noel” resolvesse o que vestir naquela noite, até que ela preferiu o vestido, que vinha acompanhado de luvas, saco de presentes (sem presentes, claro), cinto preto, gorro. “Vai querer meia arrastão vermelha ou meia-calça branca?”, ofereceu ainda a vendedora, como complementação ao pacote. “Não quero meia”, disse minha filha, manifestando o que lhe restava de bom-senso naquele ambiente.
Finalmente com o pacote de “Mamãe Noel” pronto, fui pagar o aluguel. A vendedora foi interrompida por um senhor que, acompanhado da filha, procurava “uma máscara para a festa da Rute”. A vendedora trouxe uma máscara no melhor estilo carnaval veneziano, branca, rendada, pela metade, o que significava que a metade do rosto ficaria à mostra. “É isso?”, disse o homem com ar de decepção. “É para o senhor?”, perguntou a vendedora sem responder. “Dizem que é”, respondeu o desencantado, certamente imaginando o quanto ficaria exposto na brincadeira do faz-de-conta.
Saímos da loja, eu e minha adolescente “Mamãe Noel”. Lá fora, sem fantasia, uma menina pedia esmola, sentada junto à vitrine da loja, de costas para um super-homem e uma odalisca.

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