O que pode haver
por trás de uma persiana disforme? Se tivesse satisfeito minha curiosidade logo
que cheguei naquele quarto de hospital, a internação teria sido mais tranquila.
Mas só depois de enfrentar quase duas horas de atraso para o início da
cirurgia; depois ainda de buscar um almoço com cara e gosto de lanche da tarde;
e mais depois ainda de ler algumas páginas do livro da semana é que resolvi me
envolver com a persiana.
Primeiramente para ajeitar as lâminas verticais que se apresentavam
desajeitadas. Em um rápido surto obsessivo compulsivo passei a alinhar as
lâminas da persiana que faziam um barulhinho (tec-tec-tec) a cada tentativa
minha de deixá-las na posição correta. Quando consegui deixar a persiana melhor
do que estava (imaginei que se o sol batesse ali naquela janela pelo menos não
incidiria luz sobre a cama do paciente) fui olhar o que havia do outro lado da
janela ou atrás da persiana que acabara de arrumar.
Para não
desarrumar de novo a persiana, abri com cuidado a porta que ela cobria e sai
por ela. Lá fora havia uma cena de fim de tarde refletida nos vidros de um
prédio em frente com nuvens brancas no céu bem azul. As nuvens formavam um
conjunto que se distribuía pelo céu e pela vidraça de uma forma contínua, como
se os vidros estivessem lá mesmo no céu, ou o céu estivesse pintado ao lado da
vidraça. Pronto, era isso tudo que estava do outro lado daquela torta persiana
e imaginei que ela estava com as lâminas deslocadas porque alguém, sem poder
sair pela porta, como eu fiz, deve ter forçado as tiras para enxergar o céu no
vidro vizinho ou a vidraça que absorveu o céu.
(19/08/2014)
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