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06 novembro 2016

Nem tão verde assim

Ela disse que era do "verde". O que seria o "verde"?, pensei então. Como não conhecia quase nada por lá imaginei um bairro, um rio ou um via pública. Senhora simpática em seus 73 anos, acompanhava o irmão 20 anos mais novo e doente terminal naquele hospital de caridade. Descreveu as condições do paciente e seguiu tratando-o com um carinho que chamava a atenção.
Veio do "verde", um lugar que soube depois ficar situado na área rural da cidade e abrigar muitos agricultores que plantam arroz. Um lugar agradável, fiquei pensando até ela começar a contar a respeito das sucessivas mortes por lá.
"Somos umas 10 viúvas", disse primeiro. "Mas também morrem mulheres, filhos e filhas nossos". Informou ainda que as frutas não são como antigamente, que as árvores perdem folhas e frutos antes da hora. "Acho que é a fumaça dos aviões que pulverizam a lavoura por lá", conclui sabiamente a respeito da praga jogada sobre o arroz.
Fiquei pensando quem seria o próximo a ser extinto em meio ao "verde". Ela mesma, que já toma 10 remédios por dia, ou o irmão que, apesar de deficiente, tinha saúde até ficar no estado em que se encontrava?
Mesmo interessada no início da conversa por conhecer o "verde" percebi que se tratava de mais um lugar mal explorado pela ação do homem, que fica à beira do rio que lhe dá nome e que já está tão poluído como um rio qualquer de qualquer centro urbano. De verde ficou só o nome.

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