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04 dezembro 2012

Os vaga-lumes

Os vaga-lumes sempre me fascinaram e eu gostava de capturá-los nas noites de verão. Eles eram tantos espalhados pelos quintais que ao vê-los luzindo aos bandos eu eliminava minha própria culpa por encerrar uns dois ou três exemplares em vidros espaçosos, para sair pela rua com a sensação de ter uma lanterna exclusiva de pirilampos. Coisa de criança!, ouvia sempre alguém falar quando passava com meu vidro piscando rua afora. Ficava orgulhosa. Tomava aquela observação como um elogio à minha condição de criança responsável pela façanha de capturar vaga-lumes para uma função tão criativa.
Criatividade não faltava também às outras crianças da vizinhança, embora algumas brincadeiras com os luminescentes insetos espalhassem medo. Havia um menino que gostava de assustar as meninas - essa relação é milenar? - colocando vaga-lumes dentro da própria boca e surgindo no escuro com os lábios abertos e os dentes semifechados, parecendo uma caveira no meio da noite. Era horrível e nojento. Depois que passava o susto, ele abria os dentes e uns dois insetos saíam de sua boca. Ele cuspia no chão e dava gargalhadas de vencedor, enquanto os assustados amigos reclamavam de sua audácia.
Havia outro menino que gostava de colecionar os pirilampos e fazia pesquisas para explicar por que havia variedades de vaga-lumes, de tamanhos e formas diferentes, todos com a “lanterninha do bumbum”, uns mais marrons outros mais esverdeados. Nós prestávamos atenção por alguns minutos, ele apagava a luz para mostrar vários vaga-lumes piscando ao mesmo tempo e, em seguida, o grupo partia em busca de outros exemplares no quintal mais próximo.
Um dia a infância acabou; a pequena cidade cheia de quintais de pirilampos ficou distante; os vaga-lumes piscavam cada vez mais longe, no meio do campo, enquanto o ônibus deslizava pela estrada afora. Até que, perdido na cidade grande, um adulto que também pegava pirilampos quando era criança avistou os luminosos insetos em situação inusitada e registrou: 
Em meio da ossaria
Uma caveira piscava-me...
Havia um vaga-lume dentro dela.
O poeta Mário Quintana revelava a infância com seus versos, fazendo sem querer uma referência à brincadeira assustadora do menino que colocava vaga-lumes dentro da boca.
(2006)

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